segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

10 de fevereiro de 2014

Laços que ficam
Vai ser sempre assim. São laços que ficam para sempre.
Não importa se acordamos com o despertador ao domingo para percorrermos a cidade debaixo de chuva, com o país sob alerta vermelho e a ameaça de ventos muito fortes. Não importa se ficamos até tarde num dia que vai já extraordinariamente longo, se o cansaço nos pesa nos ombros, na cabeça, no humor. Importa, isso sim, que iniciámos o dia a sorrir, com um quentinho no coração, e o terminamos à gargalhada, com as memórias avivadas e a certeza de nos sabermos um dia crianças. Importa que te sabes sempre acompanhada pelos teus. Pelos de há muitos anos, pelos de há alguns, por outros mais recentes.
Importa que quando se sentam à volta da mesa de um dos mais movimentados locais lisboetas, por entre gargalhadas e conversas mais sérias, enquanto atualizam o estado da vida de cada um, continuam a ser exatamente os mesmos: os que ficam, os que nunca deixaram de estar, os que imaginas no teu futuro. Observas as diferenças – as físicas e as outras – e valorizas cada uma das mudanças que os viste empreender, cheios de coragem e de um medo da mudança que parecem não ter. Acreditas que poderias até ficar só a observá-los, a vê-los comunicarem uns com os outros naquele jeito especial de cada um, naquelas suas formas tão diferentes de serem – mas que se completam e te completam tão bem. Importa que muito na tua vida mudou, importa que houve pessoas a deixarem-na mas que tu ficaste, que eles ficaram, que continuam todos no teu caminho. Importa que quando se levantam e seguem cada um a sua direção, te sentas no carro e dizes em voz alta
- Gosto mesmo deles.
Importa que em ocasiões festivas se cruzam, se observam atentamente e trocam abraços que dizem tanto. Importa que te conhecem como poucas pessoas, que te topam a léguas, que se preocupam contigo. Importa que te viram crescer – e continuar, ainda assim, a ser tão pequenina. Importa que detêm memórias capazes de complementarem as tuas e que têm a capacidade, que vais sentindo como rara, de te avivar as lembranças de quem já não está – e tu gostarias que estivesse. Importa que partilharam dores comuns de uma forma muito própria. Não importa se apontam os teus defeitos mais depressa do que te identificam as qualidades, importa sim que o fazem para te alertar, para que não te esqueças, para que não afastes por isso de ti quem queres que fique. Conhecem as dinâmicas familiares e têm a capacidade de te identificar como amorosa, mas complicada, reconhecendo-te traços que não perderás nunca – talvez porque com eles te mantenhas confortável e garantas a dose de mimo que de outra forma te poderia escapar. Importa que procurem preencher, como que com pequenos remendos, o espaço deixado vago por quem partiu e não mais voltará. Deixas-te ficar a observá-los enquanto comunicam, enquanto se riem à gargalhada e fazem reconstituições de situações passadas e questionas-te silenciosamente como seria? – e depois calas as questões e rendes-te ao como é das coisas que são e te fazem feliz.
E sabes, cheia de certezas que raramente te dominam, que alguns laços – como estes – ficarão para sempre. Será sempre assim.

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